Não é um vício, mas uma forte rotina... Em Portugal, praticamente todas as famílias possuem uma máquina de lavar, e essa cultura da lavandaria comum não existe muito (salvo as cobertas, passadeiras e os vestidos de casamento, levados para máquinas industriais da 5àSec!), por aqui, num país desenvolvido como a França, uma máquina de lavar parece ser um luxo, e em cada quarteirão há uma destas lojinhas, com uma fila de máquinas que funcionam à moedinha...
Mas ao contrário dos filmes americanos, onde pessoas se apaixonam, lêem revistas e tomam o seu café enquanto esperam nas lavandarias, por aqui, as 'laveries', são palco de situações menos emocionantes mas igualmente interessantes (pelo menos na que costumamos ir).
Certo dia, eu e a Vânia, num dia como outro qualquer, pegámos nos dois sacos cheios de roupa, e dirigimo-nos ao local habitual, até que somos imediatamente parados por um senhor de casaco de couro, que enquanto protegia a entrada, nos dizia para esperarmos um pouco. Visto não termos percebido muito bem o porquê, o senhor de imediato se faz entender nos mostrando a sua arma 9 mm (*necessita de fontes), escondida no seu casaco de 'capanga'. "Ah bom!" pensámos nós. Olhámos para dentro, e estava a acontecer um ajuste de contas devido a negócios de estupefacientes, algo comum aqui por Saint-Denis... Quando finalmente nos foi autorizada a entrada na lavandaria, dois homens ajoelhados juntavam desesperadamente o pó branco que sobrou, e que estava espalhado pelo chão.
Infelizmente, incidentes com droga é bem comum pelas lavandarias, provavelmente porque ela se confunde com o detergente caído das máquinas! Então todos os dias o dono faz o favor de enchutar todo o pessoal que se junta ali, que mandam sempre a desculpa de: "Tou só à espera que a roupa seque!"...
Mas outras cenas memoráveis se passam frequentemente naquela lavandaria, desde dois bêbados a discutirem sobre Cristo, discussões familiares, ganzados (lá está!) a cantarem com muita emoção, encontros familiares ao jeito dos filmes 'de constituir família', e homens insólitamente desesperados quando a máquina 'come' as moedas (treinar artes marciais com a máquina é um exemplo)...
Para a memória fica também o primeiro dia em que tive de ir sozinho tratar da roupa, e o desespero que isso foi, mas o que vale é que a camaradagem masculina está sempre lá quando é preciso!; ah e também o dia em que a Vânia me deixou lá sozinho sem os sacos da roupa à hora do fecho do estabelecimento, e também aí (que seria eu sem os algerianos de Saint-Denis...), me fizeram o favor de arranjar um saco de contentor de lixo, para levar a roupa 'pa casa', arrastada pelo chão...
Fica só a informação de que cada lavagem demora 50 minutos! Tudo pode acontecer...