Destaque para a rua Belleville, e a rua Dénoyez, com fantásticos trabalhos artísticos, desde pequenas esculturas que dão identidade a vulgares habitações, ou grandes pinturas nas fachadas 'cegas', até ao 'vandalismo' bem feito...
Destaque para a rua Belleville, e a rua Dénoyez, com fantásticos trabalhos artísticos, desde pequenas esculturas que dão identidade a vulgares habitações, ou grandes pinturas nas fachadas 'cegas', até ao 'vandalismo' bem feito...
Depois da primeira semana de aulas, a Urbi, uma espécie de associação de estudantes do Institute Français d'Urbanisme (IFU), organizou um fim-de-semana dedicado ao urbanismo, como se de uma saudável praxe se tratasse. E tratou-se mesmo; a tarde daquele sábado consistia num peddy-paper pelo 20º arrondissement de Paris, embora eles nos tentassem explicar como sendo uma caça ao tesouro. O primeiro ponto de encontro era a estação de metro Gambetta, não muito longe do famoso cemitério de Pére Lachaise. Fizémos equipas, e cada uma tinha uma lista de pistas. O jogo só acabava quando tirássemos fotos a todos os cantos daquela zona de Paris que correspondessem às pistas...
O 20º arrondissement é das zonas menos turísticas da cidade, no entanto não deixa de apresentar um carácter artístico forte, com os moradores a darem-lhe uma identidade própria. Para uma caça ao tesouro não haveria local melhor. Apesar de eu e a Vânia não entendermos bem as pistas, os nosso olhos seguiam todos os pormenores curiosos que poderiam estar nas fachadas dos edifícios ou em plena rua.
Já cansados de caminhar, é então que começa a chover, e aproveitámos para nos abrigar e descansar. Mais tarde reparámos que éramos a equipa mais atrasada, mas nada que nos fizesse desistir. As pistas acabaram por nos levar ao cemitiério de Pére Lachaise, onde ficámos impressionados com a beleza e o valor turístico das campas. Provavelmente alguém que não tivesse sido famoso não estaria enterrado ali! Mas tínhamos de nos despachar e a visita à campa do Jim Morrison teria de ficar para outra altura...
De Pére Lachaise fomos ter ao belíssimo parque de Belleville, com uma vista soberba sobre a cidade (quem diz que Paris é plano engana-se...). Pouco faltava para terminármos. Descémos a longa e inclinada rua de Belleville, e virámos na estreita rua pedonal Dénoyez. Rua esta rica em arte urbana, quais pintores intelectuais quais quê, aqui até as placas de sinalização são suportes para alguém exprimir os seus sentimentos. Uma rua de culto, em que cada canto foi alvo de pinturas ou até escultura. Vandalismo bem feito, humilhando as fachadas portuguesas cobertas de tags! Seria ali que resolveríamos a última pista...
No fim, como não podia faltar, celebrámos numa esplanada, com um brinde e a apreciar alguns aperitivos típicos de Paris!
O orgulho pelo curso de Urbanismo já se fazia sentir...
Aqui por Saint-Denis descobrimos algo interessante e que se tornou uma perdição. Quase todas as Boulangeries e Patisseries da cidade têem uma espécie de promoção permanente, em que por 1€80 temos direito a 6 Pains au Chocolat ou 6 Croissants ou a outra meia-dúzia dum pastel com nome esquisito...
Maldita hora em que lá decidimos comprovar o que estava escrito em letras enormes nos vidros das pastelarias. À segunda-feira lá acordávamos cedinho para levarmos um saco de papel com 6 pãezinhos de chocolate para os intervalos das aulas, mas claro que o saco acabava sempre por chegar vazio à universidade. E assim é durante o resto da semana... Mesmos nos dias de mau tempo, em que só apetece ficar em casa, lá tenho eu de ir tratar do vício.
Não há muito tempo, precisamente quando nos começávamos a controlar com os Pains au Chocolat, decidimos experimentar os Croissants, que são bem diferentes dos de Portugal... E digo-vos, são mesmo, mas mesmo bons!!! Mais um vício...
E quando eles vêem quentinhos?...
À semelhança de Londres, andar no metro de Paris é uma aventura dos diabos! O formato da cidade, muito regular, e o facto de não haver espaços 'desertos' pela cidade (como grandes campos de cultivo entre os edifícios, tão comum em Portugal), fez desenvolver uma rede de metro que cobre todos os pontos centrais da cidade (praças, avenidas, monumentos...). A qualquer local que se queira ir em Paris há de ter uma estação de metro muito próxima. Como a construção da rede de metro parisiense se iniciou em 1900, os sucessivos aumentos e renovações fizeram dela um emaranhado de 16 linhas.
Em estações que ficavam relativamente próximas criou-se túneis para as unir, e juntamente com o facto do sistema de bilhetes se basear em máquinas de passagem como em Lisboa, resultou em autênticos labirintos, que têm o seu apogeu na estação mais central de Paris, Châtelet Les Halles, para muitos a estação de metro mais movimentada do mundo, com duas longas passadeiras rolantes!
Durante o dia, os metros andam sempre cheios, mesmo havendo carruagens a passar de 2 em 2 minutos, resultando num 'efeito de estufa', que costuma contrastar com o frio que faz no exterior.
Felizmente existem linhas de metro mais recentes (como a linha 'expresso' 14), que além de possuírem carruagens mais modernas (mais espaçosas, e com ar condicionado!), as suas estações são uma agradável surpresa. Entre o cais e o carris existem uns portões de vidro automáticos que só abrem quando uma carruagem pára... Fantástica ideia! Se alguém se quiser suicidar, não escolha a linha 14... Outra característica são a forma das estações, que deixam de ser formadas pelos claustrofóbicos túneis, mas sim por enormes galerias, muitas delas com árvores dentro (a Gare de Lyon parece ter uma selva), embora não saiba como isso seja possível, mas já confirmei que são plantas verdadeiras.
Apesar de não aconselhar um turista a andar de metro, a verdade é que existem linhas que têem partes do seu percurso acima do solo, aliás, bem acima do solo, passando por pontes entre os edifícios, ou até por cima do Sena (como a linha 6). Sendo uma boa forma de conhecer a cidade, que o diga a Vânia, que me via preso ao vidro sempre que o metro subia à superfície para tirar fotos ou filmar os percursos.
Ver rede do metro aqui.
Vantagens:
- em qualquer zona da cidade há uma estação
- percursos à superfície são porreiros
- metro de 2 em 2 minutos!
Desvantagens:
- é caro, 1€60 por uma viagem?!
- stressante
- as estações e as carruagens são autênticos fornos
- efeito 'sardinhas enlatadas' é muito comum (apesar de nas fotos não parecer, até porque tirar fotos a um monte de pessoas seria um pouco arriscado num país tão desconfiado)
- o tempo que se perde a caminhar pelos túneis das estações, dá para andar a pé nas belíssimas ruas parisienses entre pelo menos três estações...
- e o tempo que se perde a procurar as direcções dava para outra coisa qualquer...
- nas estações mais antigas não existem sequer elevadores ou qualquer facilidade para pessoas com mobilidade reduzida... e também para pessoas que andam com as malas atrás! (acreditem)
Primeiro dia de aulas na PARIS 8...
Temos apenas uma aula na universidade de Saint-Denis, simplesmente pelo facto de ser a nossa única cadeira que não tem a ver com Urbanismo: Sociologie de Mouvements Sociaux... Aula à segunda-feira de manhã, até aqui tudo bem, só que uma aula que começa ao meio-dia e acaba às 15!! Quando é que se almoça??
Primeiras impressões: apesar das instalações estarem em péssimas condições (todas as paredes têem algo a 'dizer', já o ensino parece estar em excelentes condições. Um professor que interage com os alunos, que ajuda, e que 'puxa', sempre com simpatia. Apesar de naquele dia não percebermos nem metade do que ele dizia, depressa nos fizémos identificar como alunos estrangeiros, estatuto partilhado com mais 2 ou 3... A porta fica aberta, os alunos comem e bebem durante a aula, mas todos, sem excepções ouvem com atenção e curiosidade o que o professor diz.... O que interessa é mesmo aprender!
Primeiro dia de aulas no IFU...
Naquela terça-feira ainda não sabia bem que cadeiras definitivas iria ter, restando-me seguir o plano de estudos provisório. A Vânia sabia, e enquanto a aula dela decorria de manhã, fiquei numa zona de convívio do departamento e aproveitei para admirar o pequeno edifício. As condições são de longe melhores que a Paris 8. O IFU é um departamento isolado, mas moderno, com direito a uma biblioteca dedicada ao Urbanismo!
A aula que tive à tarde chama-se Seminaire de Méthode, e é uma disciplina de apoio aos alunos não-francófonos que lá estudam, em que se ensina o francês no âmbito do urbanismo... Mas esta cadeira também existe, noutra versão, para todos os outros alunos, com o objectivo de apoiar as outras cadeiras principais. Não sentem que falta algo assim em Portugal?
Mas bem, do mestrado somos só 6 alunos estrangeiros: eu, as espanholas Clara e Eli, a brasileira Juliana, o colombiano Dario, a coreana Jihin, e o sempre sorridente Tuan do Vietname. Como o professor é um daqueles senhores de idade, sempre de cigarro na mão, a rir-se como pode (já que os pulmões não dão para muito mais), a primeira aula foi mais um encontro de culturas, do que aprendizagem teórica... T.P.C. - treinar o francês...
Estes 'primeiros' dias deram-nos logo a impressão que o ensino é bem diferente do que estamos acostumados. Pareceu-nos que quer os alunos quer os professores não estão 'ali' por obrigação, mas por gosto (ya, eu sei que parece estranho!). Mas veremos se com o tempo isso se confirma...
Allez Urbanisme Allez!
O último dia do curso tinha de ser especial... Mas sobretudo para nós que íriamos ter a maior parte das aulas muito longe dali, e provavelmente nunca mais íriamos ver aquele pessoal, quer dizer, algum daquele pessoal que partilhava connosco as aulas de integração...
Para a despedida, aquela sexta-feira consistiu numa manhã parecida com a primeira do curso, com todos os alunos estrangeiros reunidos no anfiteatro, em que os professores/monitores nos deram as boas-vindas à Universidade de Paris 8...
E depois vinha o tão esperado almoço, que mais não era que um imenso piquenique numa sala de aula!
Depois de discursos, comprovativos de presença no curso, e de encher a pança, só nos restava o Adeus. A despedida mais não foi que trocar contactos, para combinar futuros encontros, e um sorridente:
- Au Revoir!
Na semana a seguir, as aulas a doer iam começar.
Finalmente o nosso quarto definitivo!
Dia 30 de Setembro, o monsieur da residencial mostra-nos o novo quarto. Um quarto que apesar de pequeno estava 'arranjadinho' (a sério mãe! podes estar descansada...). É um estúdio individual, apesar de estar registado oficiosamente como 'duplo-petit'. Mas pronto, serve...
Durante a tarde daquele dia limpámos o quarto todo, lavámos tudo o que era objecto, desfizémos as malas, e fizemos compras 'para um mês'. Parecia a nossa primeira casa.
características:
- As pequenas dimensões do quarto fazem dele um local acolhedor.
- A grande e única janela está virada para as traseiras como nós preferíamos, por causa do barulho e da segurança. Mais precisamente para Oeste, onde levámos com o Sol à tarde.
- A vista não é como o quarto anterior, mas o logradouro também não é feio como é costume.
- As cortinas que estão na janela são bem giras. A questão nem é darem um ar 'hippie', mas sim iluminarem o quarto com uma luz laranja-azul quando estão fechadas. Mística psicadélica!
- No primeiro dia a televisão dava 6 canais com algumas interferências. Passado uns dias, quando a Vânia partiu a antena, a televisão passou a dar os 6 canais sem interferências...Excelente! Apesar de raramente a ligarmos. Os programas franceses de entretenimento tendem a ser mais 'artificiais' que os portugueses.
- O pequeno armário que apoia a televisão é velho, mas dá um ar muito grunge ao quarto. Incrivelmente coube lá a roupa toda da Vânia! (pronto, já levei um murro)
- Um frigorífico apoia uma placa eléctrica de fogão. Apesar do frigorífico estar normalmente cheio com chocolates. A placa tem dado para os meus fantásticos cozinhados! Poucos dias depois substituímos a placa por outra moderna em alumínio. Até moelas cozinhámos (a Vânia cozinhou, pronto)!
- E temos uma grande secretária que serve para quase tudo: pousar lixo e papelada, almoçar, jantar, estudar, escrever no blog...
- Num canto do quarto tem uma casa de banho, com um chuveiro e um lavatório. Estão a ver os quartos de banho dos aviões? O tamanho é o mesmo. Imaginem a confusão de manhã, só às coteveladas é que eu e a Vânia nos despachamos!
- O quarto está pintado de azul-céu e bége, o que combinando com as cortinas e os cobertores de cores psicadélicas, dá um ambiente tão, mas tão...Não sei, sinceramente... Mas fica engraçado...
E pronto, este é o nosso cantinho...
A minha paixão por arranha-céus fez-me 'colar' no google antes da viagem, para admirar fotos do maior centro financeiro moderno da Europa, o bairro de La Défense... Então, num certo dia em que fomos ao IFU tratar de assuntos, reparámos que a linha RER que serve Noisy-Champs é exactamente a mesma que serve La Défense no outro lado de Paris. Há que aproveitar o bilhete, e matar a curiosidade!
A paragem RER fica mesmo junto ao Grande Arche. Ao sair da enorme estação subterrânea, é impossível ficar indiferente a este edifício de grandes proporções. Existem duas razões que fazem dele um monumento significativo:
1º A localização - é o monumento que fica no 'fim' do Axe Historique, eixo este que já possuía dois Arcos (o Arco du Carrousel, e o Arco do Triunfo), e em 1989 ganha outro, por iniciativa de quem? François Mitterand, claro está, o presidente mentor do Paris moderno.
A localização na paisagem é fantástica, já que fica também no fim da via principal que divide a meio duas grandes áres de arranha-céus. A vista em qualquer local do Axe Historique é impressionante!
2º A arquitectura - o dinamarquês Otto von Spreckelsen projectou um cubo perfeito de 112 metros de aresta, e 'abriu-o', de forma a ficar com apenas três faces (mais o chão). A ideia é imitar os outros Arcos. E este também acaba por estar ligado à guerra. O arco assim como todo o bairro chamam-se La Défense pelo facto desta zona dos subúrbios Oeste de Paris, ser o símbolo da resistência francesa em mais um dos vergonhoso episódios da humanidade, isto é, mais uma guerra qualquer, e que está representado pela escultura que se pode ver em cima. Voltando ao Grande Arche, ele é tao grande, que lá caberia a catedral de Notre-Dame! Além dumas esculturas giras e um elevador panorâmico no 'interior', este monumento contém ainda uma galeira de exposições e um centro de congressos, no interior das 'faces'.
Depois duma visita rápida ao Grande Arche (para os franceses, é feminino, sabe-se lá porquê), fomos explorando a via central do bairro.
Em 1958, começou-se a planear uma zona empresarial com alguns edifícios de escritórios, que albergassem as multi-nacionais francesas. O edifício 'baixinho' e largo que podemos ver na antepenúltima foto (das de cima), é o mais antigo e alberga a sede do Centro de Indústria e um centro comercial. E na foto anterior podemos ver outro centro comercial, este gigantesco (com um Auchan de três andares!), de forma a servir os 150 000 funcionários do bairro. O resto são grandes edifícios, muitos deles arranha-céus, de vários feitios, constituindo uma paisagem que bate Nova York em beleza (que exagero! eu sei). Actualmente há planos para continuar a extensão do bairro, principalmente em altura.
De notar o bom-gosto e o belo planeamento urbanístico desta área de 80 ha. Quase todas as vias rodoviárias e ferroviárias estão dispostas por baixo das enormes praças, que estão elevadas em relação à cidade de paris. Quem ali passeia sente-se grande!
Mapa detalhado de Noisy Champs e o 'campus' (a linha vermelha é o percurso de comboio RER):
Planta da Cité Descartes (o IFU é dos departamentos mais pequenos):
E agora uma foto aérea da moderna Cité Descartes, em Noisy Champs.
O IFU, onde iremos ter aulas, está à direita, ao meio.