03 de Dezembro de 2009

Quando chegámos a Paris, não esperávamos conhecer tanto os subúrbios como o centro da cidade. É certo que vivemos nos subúrbios, e que temos aulas em duas universidades dos subúrbios (estou cansado de escrever subúrbios...). Mas esperávamos que as visitas de estudo que eventualmente tivéssemos, se centrassem na cidade onde tudo parece acontecer! Mas não, e ainda bem...

Ao contrário do carácter urbano e industrial das cidades periféricas como Saint-Denis, o Este de Paris é uma gigantesca planície verde, salpicada por um leve tecido urbano formado por vivendas ou pequenos prédios, que se 'aproveitam' do rio Marne (apesar de actualmente a região se encontrar em franco crescimento demográfico). Durante a viagem que fazemos quase todos os dias até ao IFU, a maior parte do percurso do RER (comboio urbano), é à superfície e vale a pena apreciar a paisagem...

Mas adiante, foi à cadeira de História do Urbanismo que tive a minha primeira visita de estudo, precisamente a uma 'comuna' do Este de Paris, não muito longe de Noisy Champs, chamada Noisiel.

O propósito era analisar os primórdios do Urbanismo como hoje o conhecemos (isto é, pondo de parte qualquer concepção clássica, etc...). Nada faria prever que no fim estaríamos não só a falar de urbanismo mas sobretudo de chocolate!

O Rendez-vous seria na praça central da zona antiga de Noisiel, mas com medo de me perder meti-me bem cedo no RER (linha A). Apesar de ser apenas uma estação a seguir à do IFU, já esperava demorar muito tempo a passar nas máquinas de validação, pois o meu  passe é de zona inferior àquela. Felizmente, e depois de 10 minutos no 'vai-não-vai', um guna de Noisiel vendo o meu desespero decide ajudar-me segurando uma das cancelas de entrada para eu passar...Merci

A estação era na zona mais recente de Noisiel, e tinha ainda muito para andar até chegar ao destino...Durante o caminho fui admirando a vila, e os seus 214 hectares de espaços verdes! Destaque para o belo parque de Noisiel e para o Château d'Eau (reservatório de água na 8ª foto).

 

     

  

 

Finalmente chego à zona antiga de Noisiel (onde já estão os meus colegas de turma), que mais não é que uma antiga 'cidade' operária chamada Menier... É aqui que entra os primórdios do Urbanismo e... o chocolate.

Há muito, muito tempo (1825), Antoine Brutus Menier, o magnata da indústria farmacêutica Menier, decide mudar de instalações para uma aldeiazita, nas margens do rio Marne. Onde pretenderia desenvolver as aplicações farmacêuticas do chocolate. Mas como Menier não tinha sido grande aluno a medicina, não pensou duas vezes, e apoiado pelos filhos decidiu usar as instalações fabris para produzir apenas chocolate em série, nunca feito antes. Menier já tinha inventado a tablete de chocolate, portanto não seria difícil ter sucesso.

Mas o gajo era um génio, um visionário, e queria mais do que fabricar chocolate. Queria fabricá-lo com estilo! Desenvolveu técnicas industriais inovadoras, construindo um gigantesco moinho no Marne, foi pioneiro no design gráfico que aplicava nas embalagens de chocolate e em cartazes publicitários; mas o mais importante foi ele ter usado as suas motivações sociais e ideológicas para criar um sistema de alojamento para os seus empregados. Criou uma pequena cidade perto da fábrica, e baseando-se nos modelos ingleses, pensou a sua estrutura, e até o estilo arquitectónico. Na praça central ficava a escola para os filhos dos empregados, algumas lojas, locais de lazer, e duas cantinas, uma para os solteiros, outra para os casais. E perpendicular à praça existem ruas que serviam as casas dos operários. Casas estas pensadas ao pormenor de acordo com as necessidades dos habitantes. Construiu também uma igreja (na colina), correios e um edifício administrativo. Claro que todas as ruas e praças têm o nome dum elemento da família Menier. Muitas das inovações, incluindo objectos como as secretárias usadas na escola, inventadas por Menier, chegaram a estar em exposições mundiais!

 

  

   

     

  

 

Depois de termos explorado toda a Vila Menier, chegou a altura de nos deslocarmos até ao rio Marne para ver o antigo complexo industrial que hoje é considerado património mundial pela UNESCO. 'Antigo' pois, lembram-se de alguma marca de chocolate 'Menier'? Suponho que não, na verdade a família Menier manteve o negócio em alta até à 1ª Guerra Mundial. Durante os 4 anos de guerra, a neutral Suiça teve tempo e dinheiro para desenvolver o negócio do chocolate, abrindo alas a uma série de empresas concorrentes, que acabaram com o império da família Menier. Hoje o antigo complexo industrial é a sede da... Nestlé France. 

Ainda perguntei se a visita consistia em entrar no complexo para ver a fábrica, e se a Nestlé nos iria dar chocolates, mas não... Restou-nos ir até uma pequena ponte de madeira sobre o Marne e contemplar ao longe a antiga fábrica e o moinho. E restou-me a mim, no fim da visita ir a correr até um supermercado para comprar chocolate!

(última foto do senhor Menier, a seguir a um dos cartazes publicitários)

 

 

    

publicado por Nuno às 21:54

Estudantes do Institut Français d'Urbanisme

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