Montmartre: muito há a contar sobre esta zona tão (mas tão!) carismática, da cidade de Paris...
Local onde é obrigatório passar mais que uma vez, pois cada rua pode conter alguma surpresa...
No 18º arrondissement, um intenso bairro cobre a colina de Montmartre, que culmina numa das mais belas igrejas da cidade, a Basílica de Sacré Coeur. A zona de Montmarte foi palco duma evolução histórica que não lembra o diabo! Mas já lá vamos...
Montmartre é relativamente vasto, e as ruas, principalmente junto à basílica, ainda preservam uma estrutura medieval, que vão ligando a Sul com a intensíssima Boulevard de Clichy ou com a Boulevard de Rochechouart. A Norte, nada apenas do que o aspecto industrial dos subúrbios (nomeadamente Saint-Denis!). Como bons turistas amadores que somos, fizemos o mais prevísivel, sair na estação de metro Anvers, atravessar os quarteirões dedicados à venda de tecidos, até à Place St. Pierre, onde uma grande escadaria nos conduz à Basílica de Sacré Coeur.
Curiosamente, esta zona era-nos familiar, foi exactamente por estes lados que ficamos nas primeiras noites em Paris (na quarta foto está o local escolhido para passarmos aquela que foi provavelmente a noite mais longa das nossas vidas).




Olhar a escadaria da Square Willette, faz-nos lembrar Braga ou Viana do Castelo (o templo de Santa Lúzia foi aliás inspirado em Sacré Coeur), felizmente temos um moderno funicular do lado esquerdo, que funciona com o simples bilhete de metro. Antes de subir, a intensidade da circulação de pessoas já se fazia sentir, mesmo numa altura em que tanto frio se fazia sentir. E claro, com tanto turista a circular, era previsível que um grupo de pessoas se tentassem aproveitar, pegando nos nossos pulsos, fazendo uma bela pulseira em 10 segundos, e pedindo muito dinheiro em troca, sem deixar que as pessoas recusem as pulseiras, é o dia-a-dia junto à entrada no funicular...
À medida que subimos a encosta, a bela paisagem de Paris vai-se formando por cima das grandes árvores que rodeiam a escadaria. Já lá em cima, a vista é espectacular, e na última porção de escadas (o funicular não vai até à base da basílica), um grande número de pessoas tira fotos, descansa e assiste aos espectáculos de rua habituais (o rapaz guineense com a bola de futebol em cima dum muro, é dos mais populares)...
Fica a ideia que Montmartre é talvez a segunda zona mais turística de Paris a seguir à Torre Eiffel, e só estávamos no Outono...




E agora a história: inicialmente esta colina era um lugar de culto - o nome Montmartre deve-se mesmo ao martírio dos cristãos no ano de 250 -, foi na Idade Média local de peregrinações, e no século XIX, recebe o complexo da Basílica de Sacré Coeur. Talvez pelo facto de no século XII se ter começado a cultivar vinhas nas encostas, a carga religiosa acabou por ser positivamente 'infectada' pela vida boémia associada aos pintores, e hoje, Montmartre é mais falado pelos turistas por ter o Moulin Rouge do que a Basílica de Sacré Coeur!
Na verdade, foi à cerca de 200 anos, quando o bairro passou a estar inscrito na cidade, inúmeros pintores, escritores, e bailarinas invadiram-no, e o bairro que rodeia a Basílica tornou-se um pólo de atracção europeu, onde os artistas se encontravam nos bares, teatros, cabarés e bordéis para discutirem ideias, impondo uma imagem de 'poucas vergonhas' àquela zona tão 'santa'...



Depois de uma breve visita ao interior da basílica, fomos caminhando a Oeste, até ao pituresco coração de Montmartre. O sol começava a ir-se, os candeeiros ligavam, e a noite de Montmartre começava a fazer jus à sua reputação? Nem por isso, o frio começava a levar os turistas, e apenas os belos bares se enchiam timidamente, contrastando com as grandes avenidas mais a Sul, onde as sex shops e os bordéis representam a noite de Montmartre todo o ano.
Na mais conhecida praça da zona (e a mais elevada de Paris), a Place du Tertre, inúmeros pintores esperavam que os últimos turistas do dia se atrevessem a comprar as belas telas, com as ruas de Montmartre como tema dominante.
Esta praça, antigo local de execuções, é paragem obrigatória, e as suas esplanadas e fachadas dos cafés são um regalo para os olhos...



As grandes mas estreitas escadarias que passam por entre os edifícios permitem-nos olhar de vez em quando a paisagem que circunda Montmartre; na primeira foto em baixo, a paisagem industrial de Saint-Denis faz os turistas ficarem indiferentes ao lado Norte do monte, quem diria que esta zona ainda é Paris... Na segunda foto podemos ver o reservatório de água de Montmartre, que se confunde com a arquitectura da basílica.
Olhando para trás, a grande cúpula pontiaguda da basílica ao fundo das ruas estreitas, cria o cenário perfeito para pintores e fotógrafos (a cúpula é o segundo ponto mais alto de Paris a seguir à Torre Eiffel).



Dalí, Van Gogh, Degas, Cézanne, Monet e Renoir, passeavam frequentemente por aqui...
Neste final de dia, o ambiente estava estranhamente calmo mas estava perfeito assim...
E a arte ainda brotava das paredes e da calçada, como uma luz que não se quer apagar...
Começando a descer a colina, até às avenidas, a azáfama parisiense volta a dar de si, com os turistas a saltarem de lojas de souvenirs, para os pequenos 'mercados' dos cachorros e crepes... Montmartre acaba aqui...


