Parte final do grande passeio pela colina de Montmatre (primeira parte clicando aqui, e segunda parte clicando aqui). A pouco e pouco fomos nos dirigindo para Oeste, para uma zona essencialmente residencial, onde neste dia nem havia sinal de turistas. Vale a pena passar por aqui sobretudo pela arquitectura e o ambiente bem rural da zona. Du Au Lapin Agile passámos para a rua l'Abreuvoir, com as suas mansões e jardins privados do século XIX. Muitos dos artistas mais abastados viviam aqui de certeza...



Seguindo para a Allée des Brouillards, passámos pela praça Dalida, um belo espaço que marca o desnivelamento entre as ruas Abreuvoir e Simon Dereure. É conhecida pela estátua da cantora Dalida, que alem de ter sido famosa por cantar e actuar em dezenas de línguas, tinha uma enorme paixão por Montmartre, que lhe dedicou assim esta praça após a sua morte em 1987. Ali ao lado fica a Square Suzanne-Buisson, um calmo jardim bem protegido pelas casas, e que contém bastantes elementos decorativos como fontes e estátuas. Uma delas é a de Saint-Denis a segurar na cabeça, supostamente para marcar o lugar onde ele foi decapitado - estes parisienses não se decidem!




E eis que atravessando o parque para sul, damos com a importante Avenue Junot. É na verdade uma rua larga, muito tranquila e bem arranjada, e onde moram e trabalham grande parte dos artistas de Montmartre. O nº13 tem ricos mosaicos feitos por Poulbot que aqui morou; o poeta dadaísta Tzara morou no nº15, etc, etc... Grande parte destes artistas nem sequer eram franceses, mas lá devem ter poupado dinheiro em voos lowcost para Paris, e assim poderem comprar estas belíssimas vivendas. Mas o que me fascinou mesmo foi uma travessa sem saída no nº23 bis, que é ladeada por um complexo habitacional em Art Déco chamado Ville Léandre. As suas vivendas coloridas fazem lembrar partes de Butte-aux-Cailles.




No fim da Avenue Junot, virámos para a rua Girardon, e depois rua Lepic, onde ficam os poucos moinhos ainda existentes de Montmartre. Antigamente existiam mais de 30 moinhos em Montmartre, que se dedicavam a esmagar o trigo e as uvas, mas hoje só existem dois: o Moulin de Radet e o Moulin de la Galette. O primeiro é hoje um restaurante com o nome do segundo, vá se lá saber porquê. Já o verdadeiro Moulin de la Galette, construído em 1622, é hoje uma casa privada, que já pertenceu a Debray, um corajoso parisiense que se armou em herói durante o cerco russo a Paris, e como resultado, foi crucificado nas pás deste moinho.




Ainda na rua Lepic, destaque para o nº54, onde viveu Van Gogh. Estava na altura de descer Montmartre até às movimentadas Boulevards, e este caminho é possível percorrendo apenas a rua Lepic, pois esta, tendo a forma de ponto de interrogação, consegue deambular encosta abaixo até alcançar uma recta perpendicular à Boulevard de Clichy. É curioso como aos poucos, a tranquilidade vai sendo substítuida pelo movimento turístico de Montmartre, pela grande presença de bares, e pela presença de grandes prédios semelhantes ao resto da cidade.




Chegados à Boulevard Clichy, avenida que conhecemos muito bem por razões que... (pai e mãe, estejam descansados), encontrámos um dos locais mais turísticos de Paris: o Moulin Rouge. Ao contrário dos moinhos da rue Lepic, este foi rapidamente transformado num salão de dança em 1900. O tipo de espéctaculo que lhe deu fama, isto é, aquelas bailarinas vestindo uma interessante lingerie, e levantando a perna e tal..., não foi aqui inventado ao contrário do que se possa pensar. Nasceu sim nos cabarets de Montparnasse. Hoje um montão de gente passa o dia a tirar fotografias na Place Blanche, mas é a noite que esta avenida ganha o seu real encanto, com as fachadas das sexshops iluminadas em tons vermelhos, e o intenso espectáculo de luzes que cobrem os clubes de strip. Red Light District portanto...



O percurso por Montmartre estaria aqui terminado, mas visto que poucos dias faltam para terminar a nossa estadia em Paris, decidimos alimentar a nossa nostalgia, e fomos até à Place Saint Pierre, onde começa a escadaria para a Basílica de Sacré Coeur. O lado Este desta praça é marcado pelos grandes armazéns de textéis, mas também pela Halle Saint Pierre, um museu e galeria dedicado à Art Brut. Este tipo de arte, nomeada em 1945 por Dubuffet para descrever obras de cariz mais marginal e alternativo, é bem expressivo na decoração exterior. Mas o que é que isto tem a ver com nostalgia? Foi junto a este museu que passámos a nossa segunda noite em Paris. Quando começou a chover, fomos dormir para debaixo dos armazéns...



...mal sabíamos nós que estávamos em Montmartre...