Lá chegou o dia em que decidi dar um passeio pelo Marais. Não era a primeira vez que cá tínhamos vindo, mas desta vez queria perceber de quanto tempo precisava para conhecer em condições este mítico e histórico bairro junto ao centro da cidade. Acabou por ser uma tarefa ingrata, visto que esta zona que cobre praticamente todo o 4º arrondissement, tem um palácio-museu em cada quarteirão! Mas já lá vamos...
Comecei por aquilo que já conhecia, a lindíssima e antiquíssima Place des Vosges, ainda coberta de neve e sem a multidão que aqui costuma marcar presença aos fins-de-semana. Aparentemente esta praça ainda vai marcando a centralidade duma zona tão densa como é o Marais, distorcida pela proximidade da Praça da Bastilha a Este, e o Hôtel-de-Ville a Oeste. Densa, no sentido em que a maioria dos jardins e pátios/praças existentes são 'privados' e estão entre muros, e os palácios que formam os quarteirões estão separados por ruas e passeios estreitos. Adivinha-se o caos em dias de enchente...
Este antigo pântano ('marais'), foi desde o século XIV a zona onde viviam as famílias mais ricas da cidade, muito por causa da proximidade 'real' com o Louvre. Por isso não admira a quantidade de palacetes, os chamados 'Hôtels', que aqui existem, formando hoje uma malha urbana peculiar.
Durante a Revolução Francesa, o Marais foi sendo abandonado pela nobreza, e sofreu grande deterioração, mas uma zona tão central como esta acabou por ser aproveitada pela comunidade judia no fim do século XIX, que aqui se estabeleceu, até hoje, e reforçou o carácter comercial do Marais.
Quanto aos palacetes, uma grande operação de reabilitação urbana no contexto de pós-Segunda Guerra Mundial, transformou a maior parte dos 'Hôtels' em grandes e conceituados museus. Um deles, o Hôtel de Sully, fica junto à Place des Vosges, e aqui vos apresento...
É dos palacetes mais conhecidos do Marais, muito pela beleza das suas fachadas 'tardo-renascentistas', e não tanto pela sua actual função de receber exposições de fotografia e cinema pontuais. Inicialmente construída no século XVII por um jogador que perdeu a sua fortuna numa única noite, acabou por ser comprada pelo duque de Sully, um primeiro-ministro que redecorou o interior, e os belos jardins que ainda hoje existem. Este Hôtel tem duas entradas, uma numa das ruas mais antigas de Paris, a Rue St. Antoine, e a outra entrada dá directamente para a Place des Vosges. Os jardins estão gratuitamente abertos durante o dia, muito à semelhança com o que acontece nos outros palacetes. A visita é obrigatória para quem passa pelo Marais.
Devido ao grande processo de revitalização cultural do bairro, o Marais foi-se tornando o directo 'rival' de Montmartre, com a invasão de galerias de arte que juntamente com os inúmeros museus criou um bairro de referência turística especificamente artística, e fez disparar os preços do metro quadrado. Este bairro da 'moda', é também hoje conhecido pelo circuito gay, que engloba cafés, cabarets, etc..
No entanto, e porque o Marais é relativamente extenso, à medida que nos aproximamos do Sena, os muros e os passeios estreitos vão dando lugar à típica cidade, mas com uma estrutura ainda muito 'medieval' (nas últimas fotos, algumas ruas com dois metros de largura no máximo, e onde os prédios têm janelas viradas para as mesmas)...
Estudando o pouco que vi nesta tarde, dois dias devem chegar para conhecer o Marais como deve ser. Bendito o dia em que decidimos ficar em Paris mais 1 semestre!