A tarde de dia 23 de Setembro continuava. O sol parecia não se querer mostrar muito, ao contrário dos primeiros dias da nossa estadia. E a Vânia já se começava a enervar porque eu não largava a máquina fotográfica. Enquanto isso atravessávamos o Sena, em direcção ao 1º arrondissement, e em direcção a uma bela fachada, com três arcos que davam continuidade à Pont du Carrousel.
Depois de passarmos pelos arcos, percebemos que enorme e antigo edifício era aquele, o Museu do Louvre!
A pirâmide de vidro lá estava (e outras mais pequenas também), a fila de pessoas também lá estava, e uma simetria arquitectónica que arrepia também lá estava. Quer eu, quer a Vânia, pensávamos que a pirâmide era bem maior, como a víamos nos postais, mas vá... não deixa de ser grande.
Este monumento de vidro não é mais que a entrada principal para o museu, embora seja susceptível a interpretações curiosas, como alguns maus alunos de matemática adoradores do Satanás, que dizem que a pirâmide é constituída por 666 painéis de vidro. De qualquer das formas, esta foi uma das muitas obras encomendadas pelo antigo presidente François Miterrand para a cidade de Paris. Projectada pelo arquitecto I. M. Pei (reparem neste nome, tem 5 letras, ou seja o número anterior ao 6, que por sua vez é o primeiro algarismo do número 666, hum, curioso...), é descrita, como diz no livro Da Vinci Code, como uma "cicatriz na face de Paris". Não acho. Penso que a relação 'antigo-moderno' é muito bem conseguida. Mesmo assim, comparada com outras construções muito mais polémicas na cidade, os parisienses não se podem queixar (a torre de Montparnasse é um autêntico 'mamarracho')...
Finalmente o sol começava a espreitar nas nuvens, e enquanto isso olhávamos para Oeste. A visita ao gigantesco museu ficaria para depois. Acompanhados pela estátua de Luís XIV (o 'Rei-Sol', ou 'Rei-esbanjador-enquanto-os-pobres-passam-fome'), posicionámo-nos no 'Axe Historique' - eixo histórico, trocando por miúdos, é pensar num segmento de recta que começa na pirâmide do Louvre, passa pelo Arco du Carrousel, caminho central do jardim des Tuileries, praça de La Concorde, avenida des Champs Elysées, Arco do Triunfo, ponte de Neuilly, e acaba no recente Grande Arco de la Défense! quase 8 km, obra-prima de engenharia! E na altura nem havia Google Earth!
Mas bem, decidimos então caminhar pelo Eixo, e o próximo passo era o Arco do Triunfo du Carrousel. Não confundir com o Arco do Triunfo, que roubou protagonismo àquele que podemos ver nas fotos em baixo. O Arco du Carrousel apesar de bem mais pequeno, ganha em decoração. E é mais um dos monumentos que o Napoleão Bonaparte construiu para se armar em imperador romano! Enfim...
Depois de passarmos o 'pequeno' Arco, deparamo-nos com um imenso, monumental e líndissimo parque... O Jardim des Tulleries (penso que se traduz para 'Tulherias', de qualquer das formas havia antigamente no local uma fábrica de telhas, daí o nome), servia inicialmente para adornar um importante palácio, com o mesmo nome, que lá existiu, mas que acabou incendiado e depois demolido.
O Jardim é embelezado por dois grandes lagos geometricamente limitados (um circular, outro octogonal), pelos arvoredos também geometricamente dispostos, e pelas antigas esculturas (estátuas, vasos, etc...), que acompanhavam uma exposição temporária duns bonecos representando vários estados de espírito.
Tudo muito bem cuidado, tratado e conservado. Requinte por todo o lado, e as cadeiras de metal verdes também lá estavam, fazendo com que as pessoas se sentassem em torno dos lagos a apanharem sol (sim, simplesmente a apanharem sol), que naquele altura já era bem vísivel. Não apetecia sair dali, mas queríamos ver o que vinha a seguir, e saber onde acabaria a monumentalidade!
Mas incrivelmente, a monumentalidade não acabaria ali. O Jardim das Tulherias acaba com uma espécie de enorme terraço de cada lado do corredor central, virado para a Place de La Concorde. Pois, a seguir ao Jardim, e seguindo o Axe Historique, uma praça gigante (segunda maior de França), que parecia uma espécie de rotunda, com os automóveis a circularem sem ordem aparente, demonstra uma importância histórica marcada pelo Obelisco egípcio de Luxor, pelo requinte real do mobiliário urbano, e pelos edifícios em redor. Na verdade o obelisco egípcio de Luxor, é mesmo, mas mesmo egípcio, isto é, há 3300 anos atrás, estava até no templo egípcio de Luxor, e passado 2100 anos acontece o seguinte: Cairo oferece à França um pac de 2 obeliscos, embrulhados e tudo, mas como cheio de boas intenções está o mundo cheio (como diz o outro...), ambos os países não sabiam como os transportar dum local para o outro. Resultado, um obelisco chegou a Paris mas o outro não; o curioso é que só em 1990 François Miterrand (quem mais poderia ser?) se apercebeu da oferta rídicula do Egipto (um obelisco sem o manual de instruções de transporte!) e disse-lhes: - Fiquem lá com o segundo obelisco, não queremos uma coisa que não podemos usar!
Do 'terraço' das Tulherias contemplámos a Place de La Concorde, a paisagem e o pôr-de-sol que faziam sobressair uma Torre Eiffel que parecia estar em todo o lado.
A tarde acabava ali, e nem a meio do Axe Historique tínhamos chegado. Mas deu para conhecer uma cidade bem antiga, num percurso que começou nos Jardins du Luxembourg.