É certo que o Panteão já conhecíamos bem, mas toda a zona que se estende de lá até ao Sena, ou seja, o chamado Quartier Latin (ou a metade Oeste do 5º arrondissement) é digna de visita intensiva! Neste post só irei falar do Sul, conhecido pela presença da mais importante universidade de Paris, a Sorbonne, e outras escolas importantes... Partindo da enorme Place du Panthéon, depois da visita à belíssiga igreja de St-Étienne-du-Mont, entrámos pelos quarteirões universitários, onde a Biblioteca Sainte-Barbe se destaca claramente com a sua fachada rosada do século XIV. A curiosidade levou-me a entrar para apreciar a bem conseguida remodelação recente, nomeadamente a nível da praça central.
No quarteirão a Oeste fica então a Sorbonne, sede da Universidade de Paris que tem a entrada principal voltada para a Rue des Écoles. Foi fundada em 1253 pelo confessor de Luís IX, para que estudantes mais pobres pudessem aprender teologia. Com o tempo, o importante centro dos debates teológicos passou a ser uma universidade propriamente dita. Com a revolução francesa, a escola foi fechada aos estudantes que se opunham às ideias liberais, mas Napoleão, numa reorganização do sistema de ensino, lá a reabre em 1806 como sede universitária. Actualmente Paris possui 13 universidade autónomas, resultado das acções políticas pós-Maio de 68 - a Université Paris VIII, de Saint-Denis, ainda hoje possui a imagem revolucionária desses tempos -, mas só da Sorbonne fazem parte 4 delas!
Um dos edifícios mais conhecidos da Sorbonne é a sua capela, o único edifício que se manteve com a renovação e ampliação de todo o complexo, que passou a ser 3 vezes maior que o colégio original. A capela é dedicada ao cardeal Richelieu, precisamente quem ergueu a Sorbonne original. O seu túmulo em mármore pode ser visto a quem tiver a sorte de apanhar a capela aberta ao público. Em frente à entrada, está um pátio com belas esplanadas que faz a ligação da universidade com a importante Boulevard Saint Michel...
Descendo esta boulevard, eis que surge o edifício mais impressionante do Quartier Latin, o Museu Nacional da Idade Média, ou Museu de Cluny. Construído em 1500, recria na perfeição uma enorme mansão medieval. A visita ficará para outra altura, pois será preciso uma tarde inteira para conhecer a sua enorme colecção de objectos da Idade Média e da época galo-romana. Um dos jardins adjacentes, voltado para a Rue des Écoles, possui uma pouco cuidada escultura de Rómulo e Remo, os dois gémeos criados e amamentados por uma loba. Rómulo, terá sido, segundo a lenda, o fundador da cidade de Roma, mas isso é outra história... O nome desta rua não é por acaso, e uma dessas escolas é também uma importante universidade. O Collège de France, voltado para a praça Marcelin-Berthelot, foi fundado em 1530 por Francisco I, com o objectivo de contrariar o clima de intolerância da Sorbonne. A estátua que se pode ver numa das fotos em baixo é de Budé, humanista que aconselhou o rei. A frase 'Ensinamos todos' pode ser vista na entrada principal do colégio.
Pode-se dizer que a importância académica destes quarteirões tiveram bastante influência naquilo que é hoje o Quartier Latin, nomeadamente a forte presença do comércio, muito ligado às artes, como livrarias, cinemas, lojas de discos, etc.. Foi numa dessas lojas de discos, que vimos na montra, em destaque, um disco dos Madredeus, o que me faz recordar a importância portuguesa por aqueles lados; vim então a saber que André Gouveia (que dá nome à casa de Portugal da Cité Universitaire) foi um humanista tuga, que chegou a cargo de reitor da Sorbonne no século XV.
Antes de irmos ao coração do Quartier Latin, houve tempo para conhecermos o Museu de la Préfecture de Police. É proibido tirar fotos, mas fica a ideia de que a história da polícia parisiense é representada por objectos bem macabros. A secção dedicada ao papel dos polícias à resistência nazi é até bem interessante...
Nas duas últimas fotos não é bem perceptível, mas não posso deixar de falar na Place Maubert, no cruzamento da Boulevard Saint Germain com a Rue Monge. Esta praça, actualmente conhecida por abrigar um pequeno mercado, ficou mais famosa no passado pelas torturas e execuções de protestantes acusados de heresia. Por causa disso chegou a ser local de peregrinação. É triste isto das religiões, mas ainda há quem prefira esquecer e dizer que é tudo muito bonito... De bonito só as igrejas que aqui ficaram...