O 7º arrondissement é uma região da cidade com 2 monumentos que conseguem ofuscar quase tudo à volta. A Torre Eiffel faz sombra, o Hôtel des Invalides consome terreno, e é precisamente junto a este último que existe um lindíssimo museu, provavelmente dos mais agradáveis de Paris; mas só quem se atrever a atravessar os seus muros poderá desfrutar dele, já que assim como o resto do bairro (e da rua de Varenne), o local era um antigo palacete privado. Palacete esse residência de um dos maiores escultores de todos os tempos... Auguste Rodin!
Na verdade este Hôtel Biron foi mais um local de trabalho de Rodin do que sua habitação. Numa altura em que o palacete estava em péssimo estado, diversos artistas estabeleceram aqui os seus ateliers, como Matisse ou Rodin. E em 1911, quando o Estado francês decidiu comprar o espaço, o então maior escultor francês do século XIX cedeu as suas obras sob condição de tornar o Hôtel Biron num museu. Rodin não viveu o suficiente para presenciar a inauguração do museu em 1919, mas deverá saber que o seu espólio está em excelentes mãos.
O museu é dedicado a obras de Rodin ou coleccionadas por ele, mas não só. A segunda e terceira foto mostram parte duma exposição temporária (literalmente fantástica, mas dum autor que não me lembro do nome, perdoem-me!), e existe ainda uma secção dedicada a Camille Claudel, aluna notável e amante de Rodin. De resto, são sobretudo as suas esculturas que enchem os belíssimos jardins tornando-o num local ídilico como provam as fotos. A obra mais famosa é 'O Pensador' (últimas fotos) e 'Os Burgueses de Calais' (terceira foto), mas a que mais me impressionou foi o detalhe de 'A Porta do Inferno', que exige um monóculo para compreender todas as alegorias à 'Divina Comédia' de Dante (fotos em cima).
Se as melhores esculturas estão no jardim da entrada, todas as outras estão dentro do palacete, assim como pinturas e fotografias: 2 vertentes que muitos desconhecem de Rodin. Aqui a colecção está organizada por ordem cronológica, e podemos assim compreender melhor a sua evolução, assim como perceber que afinal nem todas as suas obras eram em preto. Aliás, uma das mais famosas esculturas é 'O Beijo' (foto em cima): escultura branca carregada de romantismo não-piroso... Das janelas do segundo piso podemos ter noção das dimensões do jardim nas traseiras, e é interessante reparar que muitas pessoas vêm cá não para visitar o museu, mas para desfrutar da sua tranquilidade...
Todo o jardim está incrivelmente bem cuidado, e mais tarde reparámos que além dum lago, existe ainda um restaurante e um roseiral. É um mundo à parte, e o único sinal do exterior é a cúpula dourada do Dôme des Invalides que parece nos estar a vigiar. Dá vontade de ficar aqui o dia todo. Sorte têm o grupo de alunos de uma escola artística qualquer, que sentados no jardim, tentam traduzir em papel as esculturas épicas de Rodin. Esculturas essas que nos deixaram com os olhos em... tomate-cerises?