A primeira vez que subimos à torre Eiffel e olhámos em seu redor, um futurista e subtil edifício vermelho saltava logo à vista, até porque a sua forma e proximidade com a torre chegava a parecer uma sombra perfeita. Que raio de edifício é aquele tão isolado na marginal do Sena? Museu do Quai Branly, com uma arquitectura tão aberrante quanto despercebida, da autoria de Jean Nouvel. É um museu recente, e só isso pode explicar não termos ouvido falar dele, pois quem lá entra fica rendido: é sem dúvida um dos museus mais espectaculares de Paris! É também denominado por Museu das Artes e Civilizações da África, Ásia, Oceânia e Américas, o que já diz tudo sobre o seu espólio...
Que os ingleses possam ter nos seus museus partes do Parthénon, ou que os franceses tenham tantas obras de civilizações não europeias, é sempre discutível quando se aborda as vias dessas 'aquisições, mas uma coisa é certa, desde que atravessámos o muro de vidro que protege o museu e os seus jardins, fica-se com a sensação de um enorme respeito por essas culturas. Nouvel levou o conceito tão a sério, que o interior do edifício faz-nos esquecer por completo em que país estamos. O hall de entrada é típico, branco e claro, mas quando subimos a grande rampa ondulante, depressa entrámos num espaço muito escuro e íntimo, com as obras a serem iluminadas em tons avermelhados.
O número de peças que o museu contém ronda os 300 mil, sendo que a maior parte ainda se encontra devidamente armazenada. As mais de 3 milhares expostas estão organizadas por continente, mas tudo o resto é aleatório com o propósito de nos perdermos numa espécie de selva africana. Mais do que a história por trás de cada obra, é a experiência sensorial que torna este museu memorável. Quando Jacques Chirac teve em mãos de juntar todo o espólio de arte etnográfica de outros 2 museus parisienses num só, chamaram-lhe ambicioso. Hoje é a uma das maiores colecções mundiais deste género, e o museu já recebeu mais de 5 milhões de habitantes desde que abriu em 2005.
Quando saímos, nunca os tons claros do céu foram tão agressivos...